segunda-feira, 28 de setembro de 2009

que adorei que a sarete me mandou:

"Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão " Sartre

Costura radical (manifesto)

Manifesto:

"Costura radical é o duplo processo de:

* costurar coisas ridículas (que, então, devem ser usadas); e
* costurar os itens acima mencionados em tantos lugares quanto possíveis.

O objetivo da costura Radical é desafiar as normas culturais e sociais exigidas por uma sociedade burguesa-capitalista-racista-homofóbica-comedora.de.sucrilhos.

Além de ser uma atividade bastante irreverente, a costura Radical tende a inspirar discussão (você vai adorar ver quantas pessoas vêm te perguntar o que você está costurando). Este é o primeiro (bem, segundo se você realmente gostar do que está costurando e quiser usar/vesti-lx) objetivo da costura Radical, já que ela possibilita discussões políticas com desconhecidxs aleatórixs.

Por que não começar falando sobre direitos lgbttt, democracia (ou sua falta na sociedade moderna), anarquia ou guerras falaciosas (do terror, Iraque,...)?"
tradução livre por helô.

domingo, 27 de setembro de 2009

amantes: proto-crítica

two lovers (2008). filme de james gray que concorre à palma de ouro do cannes neste ano. a história trata de leonard (joaquin phoenix), abandonado pela sua noiva por não ter condições de engravidá-la. depois de procurá-la em vão por diversas vezes, entremeadas por tentativas de suicídios, se apaixona pela vizinha michelle, vendo-se, no entanto, impelido a se casar com sandra.
ao comentarem o filme, muitos críticos claramente assinalaram a dicotomia diante da qual leonard parece estar posto: de um lado (do lado de michelle), a "liberdade" ou a "fuga", a "rebeldia", a "emoção", a imagem do "moderno"; de outro (o de sandra), a prisão, a "conformidade", a "segurança", a "razão", a imagem do "clássico". essa divisão parece estar presente em algum grau no filme, mas desconfio que a narrativa vá além disso - o que explica sua força.
talvez o que mate x espectador/a (estou morta) não seja que essa cisão de mundos seja, de repente, colocada para um personagem confuso ou transtornado. o que se mostra tocante é que essa suposta 'confusão' não seja um vício propriamente distintivo de leonard. trata-se de um tipo de errância existencial, um estado que marca a vida de todas as personagens, com diferentes intensidades. com efeito, leonard não se vê tendo que escolher entre razão e emoção: as duas coisas estão nele, já, e a questão gira em torno do que fazer com elas em face do mundo.
ele ama michelle, mas não destrata sandra (e até se esforça para lhe sorrir). ele ama michelle, mas não deixa de se angustiar com o fato de ela ter um namoreco com um figura casado, que vive lhe prometendo o céu e lhe dando menos que o inferno. e com ela ele também se esforça, a fim de fazer alguns de seus caprichos. michelle não sabe se rompe com seu caso ou se compra uma bicicleta branca. sandra não é tão menos irracional. a mona se joga, mas num chão de concreto. ela fala sozinha. dialoga com a secretária eletrônica de leonard e quase pede desculpas a ele por ele não tê-la procurado.
nenhuma dicotomia dá conta da complexidade dessa realidade, em que todxs estão tentando ser felizes, cada um/a em suas circunstâncias. se seu pai lhe pede faça favores com um cabide "nós amamos nossos clientes"; se sandra, que lhe cai como uma luva, dá a leonard uma luva bem costurada e duradoura (mas que, a princípio, ele não tem a menor vontade de usar); se a única coisa que michelle de fato pede é justamente o que ele não pode dar a ela, uma relação de amizade fraternal, é que poucas coisas são mesmo simples.
em que termos (d)escrever o final do filme? haveria algumas form(ul)as bastantes simples: leonard ficou entre o amor da sua vida e o resto e, com a rejeição da primeira alternativa, abraçou a segunda; melhor viver mal que se matar; o conformismo venceu a rebeldia, como não podia deixar de ser, e outras semelhantes. prefiro pensar que o final do filme não determinou o fim da história, apenas sinalizou para o dado indispensável da possível construção do novo: a chance de se ousar permitir viver uma tentativa.

domingo, 6 de setembro de 2009

Ouvindo a conversa dos outros (trecho I de II)

"Tenho vivido, de vez em quando, com o povo Xavante – “indígenas” habitantes do serrado já há quase dois séculos na área do Estado do Mato Grosso, e há pouco menos tempo que isso sujeitados às leis brasileiras, ao confinamento territorial e à mudança drástica dos meios por onde circulam depois da chegada violenta das fazendas, do agronegócio e das cidades.
Um dos muitos fatos que me chamaram atenção morando entre eles foi sua capacidade de falar e ouvir.
Uma vez percebi um casal “discutindo” à noite, em sua língua, por horas a fio, através das paredes de palha de sua casa. Um deles falava longamente, sem interrupção do outro, muito mesmo... Quando parava era a vez do outro, que também não media palavras. Sempre calmamente, em nenhum momento alguém dava um grito ou emitia um tom rude. Noutro dia, um jovem que morava na casa deles me disse que falavam daquele jeito “para não brigar”.
Noutra feita uma mulher chegou de carro à noite na aldeia, atrás de seu marido que estava prestes a se casar com outra no dia seguinte (entre os Xavante é possível o homem ter mais de uma esposa e a fidelidade sexual de ambos os sexos não é restrita como na “sociedade burguesa”). Muita gente se movimentava para cima e para baixo ou ia para perto de onde vinha o burburinho e o pai do noivo fez até um choro cerimonial. Mas a “briga” que aconteceu não passou de uma longa conversa... A irmã do noivo falando com a primeira mulher, e vice-versa, sempre em tom comedido, sem estridência, sobre o modo de vida deles.
Os Xavante consideram a palavra muito poderosa.
Um de seus mitos cosmogônicos conta a história de dois adolescentes e companheiros (que se chamam mutuamente de “meu outro”) que às vezes se afastavam do coletivo para pregar peças e “inventar” espécies vegetais e animais, transformando-se nelas. Os dois se tratavam com respeito, um esperando a sugestão do outro para o que fazer: “meu outro, o que vamos fazer agora?”, – “diga você, meu outro, o que vamos fazer?”, “vamos fazer a onça!”, e os dois se transformavam na onça, criando-a e assombrando a todos. Depois de muitas invenções/transformações dessas, o coletivo ficou cansado e assustado com o poder deles e os mataram. Mas isso não colocou fim à vida deles, eles continuam por aí, e aparecem em sonhos, pois os sonhos são reais.
Pensando um pouco como Mircea Eliade, o rito de maturidade dos adolescentes Xavante pode ser encarado como uma morte ritual que remete a este mito, na qual espera-se que passem a noite dentro d'água para amolecer os lóbulos, talvez “desmaiem” (que em Xavante quer dizer “morram”) ou simplesmente sofram calados a perfuração da orelha, a colocação dos brincos que fazem deles homens. Pierre Clastres diz que é assim que várias “sociedades” imprimem no corpo de seus membros a memória de seu pertencimento.
No caso Xavante, o silêncio tem uma importância gritante. Podemos contrapô-lo ao poder da palavra, sempre latente e à espreita, daquela dupla mítica que inventava animais e plantas. Pois esse ritual parece sinalizar, com brincos nas orelhas, que para que a palavra não se torne perigosa demais é necessário, primeiro, aprender a ouvir o que vem do coletivo. E ouvir é uma das coisas que os adolescentes Xavante mais fazem durante os anos de sua formação. Presenciei isso na “casa dos solteiros”, onde eles dormem e são constantemente visitados pelo grupo dos homens recém chegados à idade adulta (em Xavante se diz “pequenos adultos”, grupo no qual fui inserido) que os apadrinha e os ensina.
Ouvir é tão importante que quem não fala direito ou não canta direito é chamado de “surdo”. Numa das aldeias em que fico há um telefone público e, como eu disse para eles que tinha tentado ligar mas não conseguido, o cacique me explicou que, por causa de relâmpagos, o telefone tinha ficado 'surdo'..."
Guilherme Falleiros

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

a poesia jorra
sem estética,
sem metro,
poiética.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"e tudo se resumia a não esquecer seu nome depois de varias garrafas copos cigarros e sua mão solitária sobre a mesa após o poema sussurrado" (guiga - o apelador).