sábado, 24 de abril de 2010

naupraiada

cargueiros carregam
cidades inteiras; navios
negreiros, dignidades;
mas aqui nesta minha
jangada cabem bem
poucas palavras,
duas dúzias que
já me fazem
falta.
agora que assei uma travessa de batatas, cebola e requeijão, fui te ver desarmada de livro, não te deixei cheirar (sozinha), fiz xixi na sua cama (enquanto dormíamos), você riu pra mim muito soberana e me exigiu meio totalitária sobre si, me machucou um pouco, acordei cedo e fiz café, faltou leite, lembrei disso há um segundo, nos levei pra passear ficarmos bêbadas de sol e pinga e mel, logo agora que esqueci o relógio em cima da escrivaninha roxa old-fashioned junto com minha blusa de tricô emprestada, 300 gramas de angústia mal passada e o refrão da música que ainda quero cantar com você, não é o momento, não quero, não pode ser o momento de me despedir.
"Pinte primeiro uma gaiola
com a porta aberta.
Em seguida pinte
alguma coisa graciosa,
alguma coisa simples, alguma coisa bonita,
alguma coisa útil...
ao pássaro.
Depois, coloque a tela contra uma árvore
no jardim,
no bosque
ou na floresta
e esconda-se
atrás da árvore
sem dizer nada, sem se mexer.
Às vezes o pássaro chega logo,
mas pode levar muitos, muitos anos
até se resolver.
Não desanime,
espere.
Espere, se preciso, durante anos.
A velocidade ou a lentidão da chegada
do pássaro, não tem a menor relação
com a qualidade da pintura.
Quando ele chegar
(se chegar)
mantenha o mais profundo silêncio,
espere que ele entre na gaiola.
Depois que entrar,
feche lentamente a porta com o pincel.
Aí então
apague uma por uma todas as varetas.
(Cuidado para não esbarrar em nenhuma pena
do pássaro.)
Finalmente pinte a árvore,
reservando o mais belo de seus ramos
ao pássaro.
Pinte também a verde folhagem e a doçura do
vento,
a poeira do sol,
o rumorejo dos bichinhos da relva no calor da
estação.
Depois aguarde que o pássaro se decida a
cantar.
Se ele não cantar,
mau sinal:
sinal de que o quadro não presta.
Mas bom sinal, se ele canta:
sinal de que você pode assinar o quadro.
Então retire suavemente
uma pena do pássaro
e escreva o seu nome a um canto do quadro".

* Como pintar um pássaro, de Jacques Prévert.
Tradução-homenagem de Carlos Drummond de Andrade.
(http://www.tanto.com.br/ronaldowerneck-dpc.htm)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

vim te falar sacanagens d'après midi,
porcarias, poesias, tudo muito sincero,
sim sim, tudo muito respeitoso,
não sou de foder sem considerações
prelações pro seu sexo pelado
e se você me apela ao pêlo,
não me calo, faço falar o falo
na tua pele, e mil felações
discursivas, benzinadas,
invenção de uma língua que alucina
muito cordial, sim, cá estou ajoelhada
sobre jornais do chão da sala.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"vou acordar cedo, ligar a cafeteira
pôr o pão na torradeira e sentar à mesa
e te odiar por ter me dito sorrindo
e te odiar por ter me dito chorando
que já não dá mais
e te odiar sobretudo por não ter me dito
que já não dá mais
vou odiar não me chamar johnny
e não ter uma arma de qualquer calibre
e não ter uma pistolinha que dispara água
e nem um bodoque de borracha envelhecida
para ejetar essa coisa qualquer que ficou na garganta
vou pegar o café na cafeteira
encher a caneca e tomar sem açúcar
vou pegar o pão na torradeira
e cobri-lo com uns nacos de manteiga
não tenho tempo para ser
um poema de prévert
tomo meu café e saio
e na rua o ipê roxo
me lembra que o grande e nunca banal ciclo da vida veja só meu amigo
continua
e sobretudo deixa a mensagem clara quando alguém escorrega nas flores gosmentas caídas
no chão e precisa ir ao pronto-socorro levar pontos no queixo
no ponto de ônibus tem sempre um rapaz
ouvindo qualquer coisa que soa como erasure
por mim - hoje é sexta - ele que se engane para sempre no fio de seu ipod".

(angélica freitas)

terça-feira, 13 de abril de 2010

QUASE Aprovada lei de acesso a informações públicas

A Câmara dos Deputados acaba de aprovar, às 21h47 deste 13.abr.2010, o projeto de lei de acesso a informações públicas. O Senado agora precisa analisar o texto, que traz imensos avanços para esse direito no Brasil.

O principal avanço é o fim do instrumento do chamado sigilo eterno. Hoje, sem a lei, qualquer documento pode ficar indefinidamente guardado. Com a nova regra, papéis públicos ultrassecretos podem ser classificados por até 25 anos, com uma única renovação desse prazo possível. Ou seja, o prazo máximo é de 50 anos de sigilo.

A lei de acesso brasileira também tem uma abrangência inaudita em comparação com outros países –mesmo com a regra dos Estados Unidos, vigente desde 1966. Aqui, a norma será obrigatória para todos os níveis de governo (prefeituras, Estados e União) e todas as instâncias de poder (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Um único retrocesso quase se deu durante a votação de hoje (13.abr.2010). O PSDB queria a retirada da liberação automática de documentos quando vencessem os prazos de sigilo. Seria um atraso, pois depois de 25 anos ou de 50 anos, os papéis só seriam liberados ao público se alguém fizesse um requerimento oficial. Caso contrário, a informação ficaria ainda em sigilo. A posição do PSDB acabou derrotada. Ou seja, depois de vencidos os prazos de sigilo, todos os documentos automaticamente serão obrigatoriamente colocados à disposição do público.

Outro avanço está nas listas de documentos classificados que terão de ser divulgadas, anualmente. Cada órgão público terá dizer quantos documentos colocou em sigilo. Assim, será possível saber, a cada ano, quantos papéis estão sendo mantidos em reserva e qual é a origem de cada um. Esse procedimento permitirá à sociedade acompanhar o processo e cobrar --se for necessário-- a autoridade pública quando os prazos de sigilo prescreverem.

O debate sobre esse projeto de lei começou em 2003, quando foi realizado um amplo seminário internacional em Brasília, com participação de várias entidades da sociedade civil. Daí nasceu o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, uma coalizão de mais de 20 entidades que fez o lobby a favor da lei.

Mais de 70 países no mundo já têm legislação semelhante. O Brasil está chegando lá. Atrasado, mas chegando. Isto é, se o Senado trabalhar agora e votar rapidamente o projeto.

Fonte: http://uolpolitica.blog.uol.com.br/arch2010-04-11_2010-04-17.html

segunda-feira, 12 de abril de 2010

recado

Meu bem que hoje me pede pra apagar a luz
E pôs meu frágil coração na cruz
No teu penoso altar particular

Sei lá, a tua ausência me causou o caos
No breu de hoje eu sinto que
O tempo da cura tornou a tristeza normal

E, então, tu tome tento com meu coração
Não deixe ele vir na solidão
Encabulado por voltar a sós

Depois que o que é confuso te deixar sorrir
Tu me devolva o que tirou daqui
Que o meu peito se abre e desata os nós

Se, enfim, você um dia resolver mudar
Tirar meu pobre coração do altar
Me devolver, como se deve ser

Ou, então, dizer que dele resolveu cuidar
Tirar da cruz e o canonizar
Digo faça o melhor que lhe parecer

Teu cais deve ficar em algum lugar assim
Tão longe quanto eu possa ver de mim
Onde ancoraste teu veleiro em flor

Sem mais, a vida vai passando no vazio
Estou com tudo a flutuar no rio
Esperando a resposta ao que chamo de amor

(altar particular, maria gadú)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

pra quem tinha desistido desse papo de comunicação eu to saindo bem
"Entre os que para elas [as ciências humanas] se voltavam, mas também entre os estudiosos de filosofia, difundiu-se então no Brasil a prática de lançar mão de Nietzsche como caixa de ferramentas e de utilizar como operadores conceitos seus. Não se tratava, por certo, de reconstituir o seu pensamento ou de reinscrevê-lo em sua época, assinalando débitos e créditos. Não se tratava tampouco de cotejá-lo com outros sistemas filosóficos ou de comparar verdades doutrinárias, apontando afinidades e divergências. Atentos àquilo que o discurso nietzschiano suscitava, procuravam com a genealogia pôr sob suspeita as mais diversas formações ideológicas.
A mim sempre pareceu que não é enquanto comentador de Nietzsche que Foucault revela todo o seu brilho." (Scarlett Marton, "Nietzsche e a cena brasileira", p. 206)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

"nas águas em que você nada sua filha se afoga"
(trecho de carta de jung a james joyce)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

hallo, meine Liebe...
hier bin ich, am Telefon
ja, bin ich am Telefon?
ich weiss nicht was ich sagen soll
ich weiss noch nicht mehr
was ich sagen soll
bin nur hier, am Telefon
.
hallo, meine Liebe...
hier bin ich, am Telefon
ja, bin ich am Telefon?
ich weiss nicht was ich sagen soll
ich weiss noch nicht mehr
was ich sagen soll
.
hallo meine Liebe
hier bin ich, deine Liebe, am Telefon
ja, bin ich am Telefon?
ich möchte viel von Dir erinnern
ich möchte viel von Dir wissen
aber ich weiss nicht mehr warum
.
hallo meine Liebe
hier bin ich, deine Liebe am Telefon
ich weiss nicht was ich sagen soll
nun bin ich am Telefon
.
hallo meine Liebe
hier bin ich, deine Liebe, am Telefon
hallo? hallo?
wo bist du denn?
hast du eine Freundin, oder
soll ich einen neuen Mann haben?
neuen neuen, neuen neuen
.
hallo meine Liebe
hier bin ich, deine Liebe, am Telefon
ich möchte viel von Dir wissen,
oder, möchte ich?
.
hallo meine Liebe
hier bin ich, deine Liebe, am Telefon
ich habe keinen Stolz mehr!
die Leute in der Welt,
in der ganzen Welt
die Leute sind Stolz weiss zu sein
stolz schwarz zu sein
.
ich habe keinen Stolz mehr
wir haben keine Liebe mehr
wir haben nur zwei Telefonnummern







(telekphonen, de karina buhr)