quarta-feira, 12 de maio de 2010

"consideremos os colégios do século XVIII. visto globalmente, pode-se ter a impressão de que aí, praticamente não se fala em sexo. entretanto, basta atentar para os dispositivos arquitetônicos, para os regulamentos de disciplina e para toda a organização interior: lá se trata continuamente do sexo. os construtores pensaram nisso, e explicitamente. os organizadores levaram-no em conta de modo permanente. todos os detentores de uma parcela de autoridade se colocam num estado de alerta perpétuo: reafirmando sem trégua pelas disposições, pelas precauções tomadas, e pelo jogo das punições e responsabilidades. o espaço da sala, a forma das mesas, o arranjo dos pátios de recreio, a distribuição dos dormitórios (com ou sem separações, com ou sem cortina), os regulamentos elaborados para a vigilância do recolhimento e do sono, tudo fala da maneira mais prolixa da sexualidade das crianças. o que se poderia chamar de discurso interno da instituição - o que ela profere para si mesma e circula entre os que a fazem funcionar - articula-se, em grande parte, sobre a constatação de que essa sexualidade existe: precoce, ativa, permanente".

(foucault, história da sexualidade: que vontade de saber, p. 34).

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