segunda-feira, 30 de maio de 2011

o vento chega com o frescor da noite que nao cai antes das 20h. tenho o dia todo pra suar, pra me queimar e depois pra me lembrar que numa dessas quedas estarei às vésperas de partir. partir e chegar se equivalem na dor. nao tenho métrica para mensurar o que estou deixando, nem o que vou reencontrar. mas pressinto a desmesura. a vida que se vive sem saber ao certo em que dimensao, este saber, isso deixa uma marca encravada no ar. uma marca que se move, que se sedimenta. que se constitui na noite, nas despedidas, nesses abraços miseràveis. uma marca que sente falta das outras. ela sente. essa marca sou eu. essa marca tem um coraçao irreprimivel.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Nina Bouraoui

20 décembre
Eu saio do Meio das Meninas. Eu repito meu nome, meu endereço, o côdigo da minha porta. eu nao quero esquecer quem sou. Ouço a risada das meninas. Ê sempre a neve que cai, lentamente, sobre o Luxemburgo, o jardim onde aprendi a andar. Elas dançam, sao sempre as mûsicas da minha adolescência, as meninas nao crescem, a homossexualidade é uma juventude.

2 janvier 1988
Perco minha face no Meio das Meninas.

12 janeiro
Fico no bar, como um homem. Eu acredito num verdadeiro destino amoroso.

22 de janeiro
Eu nao tenho vergonha, eu poderia me colocar de joelhos, poderia dar o meu corpo, e eu fico là, no centro das meninas que dançam.

11 février
Nôs temos todas o mesmo desejo e eu nao tenho medo disso. Eu sou feita das meninas da noite. Sou feita dessa inteligência. Sou feita de sua violência e de sua doçura.

14 de setembro
Esperar um livro se torna esperar o amor.
No Studio A vi uma menina muito bonita. Ela diz que ela é estrangeira. Ela diz que nao fala bem francês. Eu tenho uma mao que escreve. Tenho uma boca que beija. Ela diz: Eu nao tenho palavras, e eu, eu fico sem coraçao.
Me entendio dentro de mim. Preciso de um corpo. Preciso desta devoraçao.

(Nina Bouraoui, Poupée bella, Paris: Stock, 2004, livre trad.)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

voilà, o ganhador do nobel da paz confessou no palanque que matou mesmo, matou de longe, com suas bombas potentes, como os covardes; entrou no paquistão sem anunciar ao paîs suas ações, por não confiar em ninguém; foi saudado pela direita e pela esquerda do seu paîs, como queria, grande vitôria; poupou mais uma pessoa do oriente médio da sagrada tradição do avançado estado democràtico de direito ocidental. obama, que medo você guarda, que impotência você esconde, que nos parece tão lîmpida, tão suja ? que o bin laden era sô uma sombra, dessas que dispensam o corpo, jà se pressentia. tinha me esquecido de que ele vivia, mas fui lembrada por você. a auto-exaltação, o sentimento de vingança, a segurança nacional, ninguém acredita em vocês.