Fenômeno temporalmente situado no início dos anos 90, disseminou-se mais amplamente a partir dos anos 2000, com a continuidade das reformas arquitetônicas começadas na década anterior. Espalhados por todo o perímetro do Pelourinho, são encontráveis ainda em áreas adjacentes, como Dois de Julho e Santo Antônio, andam sempre em bandos ou em casais, raramente se aventurando sozinhos. Exercem diversas atividades "produtivas", como venda de artesanato, malabarismo, malabarismo com fogo, malabarismo com bolas, malabarismo com pinos, malabarismo com pernas de pau, coordenação de ongs, venda de artesanato, coordenação de projetos sociais e artísticos, cuspe de fogo, bandas de música africana, dança do ventre, música flamenca, percussão africana, heiki, permacultura, venda de artesanato, astrologia e pudemos registrar mesmo o caso de um ou dois indivíduos estudados que instalou uma mesa para jogo de búzios em pleno Terreiro de Jesus, desaparecendo em alguns meses, fato cujo motivo não conseguimos apurar completamente. Fontes orais afirmam que brevemente teremos por aqui alguns deles ministrando cursos da tradicional Capoeira Angola.
São em sua maioria jovens, desiludidos com a rotina estressante das grandes capitais do primeiro mundo, mentes livres que não compactuam com o sistema opressivo e genocida construído por seus pais e avós, e que simplesmente caíram na vida, deixando o peso de suas culturas penderem sobre nossas cabeças (se bem que o pesquisador não deva envolver-se emocionalmente com o objeto estudado, peço desculpas). Têm formação acadêmica em boas universidades dos seus países, mas não atuam em suas áreas de formação. Muitos guardam bem guardados cartões de crédito internacionais, que podem ser usados a qualquer momento, embora isso não os impeça de ousar inúmeras façanhas para garantia de sobrevivência, como tentar vender pulseirinha de palha por cinco reais, vender berimbau de cabo de vassoura, disputar sinaleira com menino de rua, dar rasteira em roda de capoeira, vender cocaína com sonrisal e tomar sopa da LBV na Baixa dos Sapateiros, entre outras coisas.
(Fábio Mandingo, "Kaska ou estudo sócio-etnográfico sobre os gringos carentes", in Salvador negro rancor, São Paulo/Salvador, 2011, p. 17-18)
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