sexta-feira, 28 de junho de 2013

É porque nada está ganho que estamos aí.
E o progresso não apenas não existe como sua ideia é uma de nossas principais inimigas.

"A tradição dos oprimidos nos ensina que o 'estado de exceção' no qual vivemos é a regra. Precisamos chegar a um conceito de história que dê conta disso. Então surgirá diante de nós nossa tarefa, a de instaurar o real estado de exceção; e graças a isso, nossa posição na luta contra o fascismo tornar-se-á melhor. A chance deste consiste, não por último, em que seus adversários o afrontem em nome do progresso como se este fosse uma norma histórica. - O espanto em constatar que os acontecimentos que vivemos 'ainda' sejam possíveis no século XX não é nenhum espanto filosófico. Ele não está no início de um conhecimento, a menos que seja o de mostrar que a representação da história donde provém aquele espanto é insustentável." (Walter Benjamin, Sobre o conceito de história, Trad. Jeanne Marie Gagnebin, tese VIII).

domingo, 2 de junho de 2013

"Não podemos saber, por exemplo, o que havia na mente de Gutenberg que o levou a associar uma prensa usada no fabrico do vinho à manufatura de livros, mas é válido conjeturar que ele não tinha intenção de amplificar o individualismo ou, aliás, solapar a autoridade da Igreja Católica. Há um sentido em que todos os inventores são  - para usarmos um termo de Arthur Koestler – sonâmbulos. Ou talvez pudéssemos chamá-los de Frankensteins, e a totalidade do processo, de Síndrome de Frankenstein. Alguém cria uma máquina para uma finalidade especial limitada. Mas, uma vez construída a máquina, descobrimos – às vezes para nosso horror, geralmente para nosso desconforto e sempre para nossa surpresa – que ela tem idéias próprias; que é bem capaz não só de mudar nossos hábitos, mas também, como Innis tentou mostrar, de mudar nosso feitio mental” (POSTMAN, Neil, O desaparecimento da infância, cap. 2).

Estava lendo esse trecho do livro de Postman quando me lembrei de uma matéria sobre os drones ou Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANTs), que hoje se tornaram uma das maiores áreas de investimentos das forças militares de todo o mundo, inclusive do Brasil, e que começam a ser utilizados pelos "civis". Além de uma nova era dos conflitos internacionais, com relações de força cada vez mais desiguais e mais dificilmente responsabilizáveis, vemos com assombro a transformação dessas armas de guerra em instrumentos de controle em relações de micro-poder que nos colocam a repensar noções de privacidade, intimidade e de espaço público. É a era em que, como prenunciava Kant, aquilo que a ciência pode fazer nos é apresentado como algo que deve ser feito necessariamente e em que o discurso da tecnologia se tornou político (tecnocrático) na medida em que pretende esmagar a política, apresentando-a ora como dispensável, outrora como ultrapassada ou retrógrada.   




sábado, 1 de junho de 2013

curto circuito.
no debate do congresso brasileiro de direito constitucional da semana passada, o advogado dos sonhos de todo fazendeiro contradisse a defesa feita por quem arguiu pela realização dos direitos dos povos indígenas à terra e à sua cultura afirmando que hoje 750 mil índios (que representam cerca de 0,5% da população brasileira)  possuem 13% do território nacional. isso é um absurdo. são 13% de terras em que não há livre trânsito de pessoas e de mercadorias, são áreas fechadas, resguardadas pela Funai (ao menos em tese) para esses povos subdesenvolvidos que ainda preservam a mata. o nobre advogado se esqueceu de dizer que há algumas poucas dezenas de famílias que possuem 44% do território nacional. esqueceu-se de afirmar, evidentemente, porque isso não é nada absurdo - ao contrário, mostra-se um fato absolutamente natural. mas que ninguém tente valer-se do direito de ir e vir nessas terras, porque a resposta se faz na base de bala, o que também é bastante óbvio e natural, assim como a necessidade de que essas áreas sejam desmatadas a bem das taxas de exportação cujos lucros, privados, só fazem enriquecer esses poucos, naturalmente. apenas não me venham dizer que esses índios atrasados, vivendo ainda em estado de natureza, são naturais. os naturais dessa terra precisam morrer em nome do naturalíssimo desenvolvimento.