domingo, 2 de junho de 2013

"Não podemos saber, por exemplo, o que havia na mente de Gutenberg que o levou a associar uma prensa usada no fabrico do vinho à manufatura de livros, mas é válido conjeturar que ele não tinha intenção de amplificar o individualismo ou, aliás, solapar a autoridade da Igreja Católica. Há um sentido em que todos os inventores são  - para usarmos um termo de Arthur Koestler – sonâmbulos. Ou talvez pudéssemos chamá-los de Frankensteins, e a totalidade do processo, de Síndrome de Frankenstein. Alguém cria uma máquina para uma finalidade especial limitada. Mas, uma vez construída a máquina, descobrimos – às vezes para nosso horror, geralmente para nosso desconforto e sempre para nossa surpresa – que ela tem idéias próprias; que é bem capaz não só de mudar nossos hábitos, mas também, como Innis tentou mostrar, de mudar nosso feitio mental” (POSTMAN, Neil, O desaparecimento da infância, cap. 2).

Estava lendo esse trecho do livro de Postman quando me lembrei de uma matéria sobre os drones ou Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANTs), que hoje se tornaram uma das maiores áreas de investimentos das forças militares de todo o mundo, inclusive do Brasil, e que começam a ser utilizados pelos "civis". Além de uma nova era dos conflitos internacionais, com relações de força cada vez mais desiguais e mais dificilmente responsabilizáveis, vemos com assombro a transformação dessas armas de guerra em instrumentos de controle em relações de micro-poder que nos colocam a repensar noções de privacidade, intimidade e de espaço público. É a era em que, como prenunciava Kant, aquilo que a ciência pode fazer nos é apresentado como algo que deve ser feito necessariamente e em que o discurso da tecnologia se tornou político (tecnocrático) na medida em que pretende esmagar a política, apresentando-a ora como dispensável, outrora como ultrapassada ou retrógrada.   




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