quando entrei no avião para voltar para são paulo chorei muito. não deixei ninguém ver, porque não gostaria de me explicar. nem estava preocupada em entender. mas me lembrei do alemão negro e alto que conheci num boteco queer de berlin. aquele bar escuro e descontraído ficava no sótão de uma ocupação, próxima ao new yorck 59. ele havia nascido na áfrica, depois se mudara para nova iorque e, por fim, escolheu a alemanha como lar. lar é um dos deuses latinos protetores da casa, da saúde doméstica. escolher um país dentre todos no mundo é como viver num país politeísta e optar por um deus protetor a ser cultuado. mas para quem já depositou seus votos em uma outra divindade a mudança não é das mais simples. era um pouco o que aquele senhor me explicava quando me disse que as saudades se acumulam, não se substituem. uma vez realizada, a adesão a um lar seria para sempre irrevogável. elas se sobrepunham, somando-se. ele falava comigo e eu pensava em um doce mil-folhas, com todas aquelas camadas finas tão quebradiças. então meu coração era aquilo. um doce frágil e aerado com recheio de chantilly e creme vanila.
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