sábado, 15 de outubro de 2011






"vá trabalhar, coloque suas crianças na escola, siga a moda, aja normalmente, ande nas calçadas, assista tv, poupe seu dinheiro para a velhice, obedeça à lei, repita comigo: eu sou livre" (cartaz de manif da nova zelândia do 15 de outubro de 2011, dia global das manifestações dxs indignadxs).


no brasil, o debate mais fundamental dos últimos tempos em torno da necessidade de mudanças sociais urgentes tem se restringido ao tema das corrupções de políticos. o assunto é um lodo profundo. a direita e a esquerda tradicional nele escorregam sem querer, são a ele puxados por uma espécie de força centrípeta e sujam-se umas às outras nos grandes meios de comunicação. apesar de estarem com lama até os joelhos, ambas tentam limpar o próprio rosto nessas mesmas mídias para se reproduzirem no poder - que o diga a ficha limpa.


por incrível que pareça, essa é uma excelente estratégia pros dois lados. pois é envolvendo a sociedade numa série de escândalos (que se tenta inutilmente conectar no plano dos fatos) que ela se vê, de súbito, também arrastada para o mesmo lodo sem resposta. nesse meio, fica calada pelo senso comum que predita o bom senso: a corrupção é má, lutemos contra ela e contra cada político corrupto. todas as nossas mazelas se resumem a isso. temos força de vontade para mudarmos o país, mas tudo enguiça na corrupção de alguns poucos.


melhor maneira para não problematizar as práticas e as teorias de uma direita que nas últimas décadas realimentou esse modelo de corrupção - veja-se o caso das propostas de financiamento público de campanha - e só fez realizar as medidas mais duvidosas em termos governamentais. trata-se das mesmas ações que provocaram as atuais crises européias e norte-americanas. assim, diante do espelho que o mundo hoje nos oferece em termos do que seria nosso futuro caso seguíssemos aquelas coordenadas políticas, de fato fica muito difícil sustentar o velho discurso de privatização de empresas estratégicas, cortes de investimento em saúde, educação e programas sociais de redução da pobreza e não-intervenção econômica.


ademais, em face de uma mobilização global maravilhosa, como não se via desde as manifestações de Seattle e seguintes, cumpre a essa direita buscar um discurso de consenso e de "paz". ela quer continuar a representar supostamente os interesses do povo. a luta contra a corrupção é um mote excelente, pois não vai ao fundo do problema e, ao mesmo tempo, dá voto. fiquemos longe, muito longe da idéia de luta de classes ou de revolução. não, o problema não é do capitalismo. não é um problema sistêmico: é desse, daquele e ainda daquele outro político em particular... como são bons os valores puros na boca de um conservador desalmado! nessa boca, os valores dispensam a política. "veja bem, a questão não é política, é pessoal! pra não dizer logo que seja de berço".


estamos no lama, com a garganta na matéria em decomposição. mas nós, a multidão (como diz o negri), não temos o que temer. nós fazemos temer. é da lama ao caos e do caos à lama. nascemos e vivemos na sopa da vida, no caldo do novo. e quando o caldo entornar de verdade não vai ser nada pessoal... é que a liberdade só existe quando é sistêmica.

2 comentários:

Guiga disse...

A culpa é dos políticos ouço isso desde crainça.

Guiga disse...

Até eu entrei nessa de finaciamento público de campanhas, espero falar mais contigo sobre isso