sábado, 19 de maio de 2012


Para as Festas da Agonia 
Vi-te chegar, como havia 
Sonhando já que chegasses: 
Vinha teu vulto tão belo 
Em teu cavalo amarelo, 
Anjo meu, que, se me amasses, 
Em teu cavalo eu partira 
Sem saudade, pena, ou ira; 
Teu cavalo, que amarraras 
Ao tronco de minha glória 
E pastava-me a memória 
Feno de ouro, gramas raras. 
Era tão cálido o peito 
Angélico, onde meu leito 
Me deixaste então fazer, 
Que pude esquecer a cor 
Dos olhos da Vida e a dor 
Que o Sono vinha trazer. 
Tão celeste foi a Festa, 
Tão fino o Anjo, e a Besta 
Onde montei tão serena, 
Que posso, Damas, dizer-vos 
E a vós, Senhores, tão servos 
De outra Festa mais terrena 
Não morri de mala sorte, 
Morri de amor pela Morte.

(Mário Faustino, "Romance")

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