"Não
podemos saber, por exemplo, o que havia na mente de Gutenberg que o levou a
associar uma prensa usada no fabrico do vinho à manufatura de livros, mas é
válido conjeturar que ele não tinha intenção de amplificar o individualismo ou,
aliás, solapar a autoridade da Igreja Católica. Há um sentido em que todos os
inventores são - para usarmos um termo
de Arthur Koestler – sonâmbulos. Ou talvez pudéssemos chamá-los de
Frankensteins, e a totalidade do processo, de Síndrome de Frankenstein. Alguém
cria uma máquina para uma finalidade especial limitada. Mas, uma vez construída
a máquina, descobrimos – às vezes para nosso horror, geralmente para nosso
desconforto e sempre para nossa surpresa – que ela tem idéias próprias; que é
bem capaz não só de mudar nossos hábitos, mas também, como Innis tentou
mostrar, de mudar nosso feitio mental” (POSTMAN, Neil, O desaparecimento da infância, cap. 2).
Estava lendo esse trecho do livro de Postman quando me lembrei de uma matéria sobre os drones ou Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANTs), que hoje se tornaram uma das maiores áreas de investimentos das forças militares de todo o mundo, inclusive do Brasil, e que começam a ser utilizados pelos "civis". Além de uma nova era dos conflitos internacionais, com relações de força cada vez mais desiguais e mais dificilmente responsabilizáveis, vemos com assombro a transformação dessas armas de guerra em instrumentos de controle em relações de micro-poder que nos colocam a repensar noções de privacidade, intimidade e de espaço público. É a era em que, como prenunciava Kant, aquilo que a ciência pode fazer nos é apresentado como algo que deve ser feito necessariamente e em que o discurso da tecnologia se tornou político (tecnocrático) na medida em que pretende esmagar a política, apresentando-a ora como dispensável, outrora como ultrapassada ou retrógrada.