não sei se por conta da grande ansiedade de assistir o paulo césar peréio (ainda mais encenando um texto próprio), que causava no palco desde muito antes de inventarem essa expressão engraçadinha, ou se porque a peça se inspiraria nas questões mais claramente políticas de wilhelm reich, o que me deixou com mil expectativas, mas 'escuta, zé mané' foi um baldinho de gelo numa noite gelada.
o peréio afirmou que queria 'traduzir' reich pro público popular, mas saí com a impressão de que ele acabou traduzindo um certo público impopular pro reich... "zé mané, não vá trocar uma biblioteca por um puteiro..." - é cômico. a primeira parte da encenação ia bem, com cutucadas pra todos os desgostos, mas depois o auditório do sesc foi parecendo cada segundo mais com uma igreja e os corolinhas com o padre coçando. a função do orgasmo? deixar a professorinha da escola menos amarga. as mulheres se dividem entre as putas desgraçadas (que o peréio parece não odiar tanto) e as saudáveis, ou seja, as que dão devidamente para seus maridos infiéis.
o peréio e o filho tavam tão gozosos de estarem supostamente provocando a platéia que esqueciam o que diziam e o potencial interesse do texto, da palavra expressada, do mais gostoso do teatro. para falar do(a) zé é preciso antes escutá-lo(a), saber ouvi-lo(a). depois das repetições acéfalas de "sai da lama, jacaré" me perguntava quem dali não seria zé mané...
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