domingo, 20 de dezembro de 2009

"não é mistério algum: por muito tempo te amei com todas as minhas forças. um corpo pálido e desesperado. sonâmbulo com destino certo, incerto mas desejoso, desejoso desejoso. só percebi a dificuldade quando veio um caminhão de mudanças e parou em frente de casa, sem gasolina, fumaças pretas, a ferrugem desconfiada que destrói imediatamente um sem-fim de seres verdes que costumam pousar nas varandas das janelas e nos quintais das residências, mesmo das mais pobres. é claro que tentei empurrá-lo dali, fazer o caminhão de mudanças se mover. ele não se mexia. empurrei tantas vezes, mãos ao alto, pés no chão, noites, dias, via se esvaírem as coisas, um pó se acumulava dentro do quarto. nem um centímetro adiante. e, no entanto, o som que fazia pedia uma vez mais. e eu saía de casa nas horas mais estranhas, em meio ao cinza do ar para tentar, tratar, tirar, tomar, tossir. ouvia sempre aquela palavra, sempre aquele verbo, sempre aquele peso parado de pontos infinitos de interrogação e de exclamação exasperada. até o dia em que, de mala e cuia, sem lenço nem documento, me mudei".
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luísa silvana, diários, v.1, p. 134.
Mais! - Vive-se hoje em uma época nietzschiana?
Benedito Nunes - Nietzsche jamais considerou satisfatória a demolição dos ídolos - ou a simples demolição dos ídolos - nem tampouco a desvalorização de todos os valores. O que domina hoje não é dele: a mediocridade ('mansa e mesquinha') e os fracos impulsos. Quem praticaria a 'virtude radiante' prelecionada por Zaratustra? Não temos hoje o super-homem, mas a sua caricatura.
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(FSP, Domingo, 6 de agosto de 2000, Mais!, p. 3)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

pão com manteiga - às vezes, no meio da rua, dá uma vontade irreprimível de grudar na pessoa desejada que anda ao seu lado, e passar a andar com ela passo a passo, subindo e descendo calçadas, desviando dos obstáculos. você conversa com xs amigxs com a naturalidade habitual, pode encostar a cabeça de lado nas costas dela, fechar os olhos e deixar que ela te leve, como se fosse a manteiga derretida em um meio-pão.
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volta djá - quando a pessoa amada está na beira da cama, pronta para sair do universo horizontal de vocês, você a abraça por trás antes que ela suspeite de qualquer coisa e a traz de volta (djá).
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inteiro - tem uma falta que angustia a pessoa desejante, falta,,,,, falta. mas, olhando pra frente, ela nota nela um excesso do que quer, porque a quer. neste momento, nada há a fazer senão envolvê-la braços e pernas em um abraço inteiro.
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livre - a pessoa desejada parece estar em queda livre quando estirada na cama; a pessoa desejante se encaixa nas suas costas e se joga junto.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

'e, procurando escapar a esta condição, Ivan Ilitch buscava consolo, procurava outros biombos, e estes apareciam e por algum tempo pareciam salvá-lo, mas imediatamente não é que desabassem de todo, mais propriamente tornavam-se transparentes, como se ela atravessasse tudo e nada pudesse encobri-la'.
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Lev Tolstói. A morte de Ivan Ilitch. Tradução de Boris Schnaiderman.
Jamais esquecerei o momento em que Raimund Fellinger, meu editor na Suhrkamp, me indagou durante a visita à Feira de Frankfurt, em outubro de 2004: 'Você sabe que Derrida morreu?'. Eu não sabia. Tive a impressão de ver uma cortina cair diante de mim. De repente, o alarido do saguão onde a feira acontecia tinha passado para outro mundo. Estava sozinho com o nome do defunto, sozinho com um apelo à fidelidade e com a sensação de que o mundo tinha subitamente se tornado mais pesado e injusto, sozinho com o sentimento de gratidão pelo que esse homem me havia demonstrado. De que afinal se tratava? Talvez do fato de ainda se poder admirar sem voltar a ser criança.
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Peter Sloterdijk. Derrida, um egípcio. Tradução de Evando Nascimento.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

a espera tem se tornado um desafio ignorante, os minutos aguentados,, sem ligar, o material mole [ou duro com que preencher o espaço entre entre um oi! e outro, me distraio, e,, perco, tempo, sim, há inúmeros papéis sobre a mesa a janela aberta ganhar ainda mais tempo, com qualquer (movimento inútil que desvie meu olhar, fazendo esforço, o vento espalhou-os todos pelo quarto e alguns ao corredor força,.., a forca para esquecer que sua presença tampouco. seria suficiente para dar conta dessa falta, como é que eu faço?,. pra disfarçar minha vontade de te comerengolir pra manter em mim =pra mim=// me nutrir de você, tudo isso tão sem pé ou sentido ou cabeça (não se afaste!) do corpo, como aplaco a ausência de poesia e essa escrita áspera e tonta que insiste em se inscrever? assim!

solidariedade aos blogs censurados pela folha de sp/uol

URGENTE!
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UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA!
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a folha de s.p.-uol anda censurando blogueirxs que fazem campanha para o cancelamento da assinatura do jornal e do portal, valendo-se do logo das empresas. o escritório de advocacia dessas mídias tem notificado extrajudicialmente xs responsáveis pelos blogs para que tirem as matérias do ar, bem como os selos de anti-propaganda, uma vez que configurariam "uso indevido de marca". a ausência da medida por parte da pessoa notificada levaria as empresas a ajuizarem ações cíveis e penais contra ela.
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a postura das mídias está prenhe de inconstitucionalidade e autoritarismo. trata-se de um caso nítido de coação à liberdade de expressão e de pensamento, que estão resguardados pela Constituição Federal em seu art. 5º. mas não é só isso... não há uso indevido de marca exceto quando sua instrumentalização se dá para fins mercantis, o que evidentemente não é o caso.
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só faltava esta: os arautos da liberdade de idéias censurando quem ainda tem algum senso crítico!
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para uma campanha para o cancelamento da assinatura da folha de sp e do portal uol [sem logo e tudo]! não precisamos colocar nenhuma marca no ar para identificá-los. eles mesmos já a deixaram - na cabeça da pequena sp letrada: sua falta de ética e de seriedade já está bastante conhecida por aqui. e essas medidas ignóbeis só farão aumentar essa boa fama. meus parabéns, continuem traçando o melhor caminho para todos nós, que é o do seu fim. e corram para me tirar do ar!.
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Algumas razões que o paulo henrique amorim té dá como estímulo pra que você cancele sua assinatura, se tiver restado alguma dúvida:
"Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; do câncer do Fidel; da ficha falsa da Dilma; de Aécio vice de Serra; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; e que, nos anos militares, emprestava carros de reportagem aos torturadores".
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Confira detalhes do caso aqui e de outros lances magníficos da folha:
no dia internacional dos direitos humanos desejo que não precisemos mais de direitos, humanos nos bastam.

avançaram sobre a propriedade

a kátia abreu, da confederação nacional de agricultura (cna) falou que o código florestal vigente precisa ser reformado, porque, ao instituir a reserva legal de mata/floresta, avançou sobre o direito de propriedade. ela fundamentou sua tese na pesquisa que identificou que 90% dxs agricultorxs não efetuaram a referida reserva em cartório no prazo legal. esse número indicaria que o problema não é das pessoas, mas da lei.
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segundo o decreto presidencial (sim, baixado pelo nosso amado presidente), quem descumprir a norma deve pagar r$ 500,00 por dia de omissão. tudo iria relativamente bem se, efetivamente, essa regra passasse a valer no dia 11 de dezembro deste ano (amanhã), como estava previsto - e não apenas em algum dia longínquo de 2011, como parece que vai acaber sendo. até lá, é claro, terão arranjado um meio de anistiar todas as dívidas contraídas por todxs xs agricultorxs até aquele momento(*), o que lhes dará oportunidade para enrolarem mais alguns anos até que o valor da multa comece a lhes fazer cócegas, ou melhor, cociquinha.
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a kátia flávia, como a maioria dxs defensorxs do capitalismo, ainda acredita que a propriedade é um direito natural ou divino, independente do estado. então, qualquer norma que restrinja o direito à propriedade em nome de valores como meio ambiente, infância e adolescência adequadas, trabalho minimamente digno etc (o que se dá, por ex., com o conceito de função social da propriedade) é entendida como atentado à sua própria essência.
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não se percebe que a propriedade é um direito tão previsto em lei quanto qualquer restrição que lhe seja feita. em outras palavras, que quem determina o que seja ou não o teor do direito de propriedade não é a abstrata idéia "propriedade", supostamente encontrada em termos idênticos na razão de todas as pessoas (noção evidentemente falsa), mas simplesmente aquele que se legitima a dizer o que é o direito sobre ela e tudo o mais.
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não quis passar pela cabeça da cna [pela minha só passou isto] que se 90% dxs agricultorxs descumpre a regra da reserva legal é justamente por ela ser excelente! só não é melhor pq sem implementação não constitui senão uma "lei simbólica", propaganda governamental semi-gratuita, uma piada frustrante, um pretexto pra um post qualquer em um blog qualquer.
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Caso Arruda - e outros mil, pátria armada, brasil
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No Brasil do mensalão,
Mensaleiro e mensalinho
Jacaré nada de costa,
Urubu sai de fininho
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É dinheiro na cueca
No calção, no sapatinho
É ladrão que rouba pobre
E se manda de mansinho.
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Todo mundo tá roubando
Deputado, desembargador
Do povão vão zombando
Tenha dó governador.
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(cf. editoriais do CMI em: www.midiaindependente.org)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

cismei de reler o caderno do semestre.
aimeudeus, cada vazio um desvario.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

drummond pornô

Em teu crespo jardim,anêmonas castanhas (drummond)

Em teu crespo jardim, anêmonas castanhas

detêm a mão ansiosa: Devagar

Cada pétala ou sépala seja lentamente

acariciada, céu; e a vista pouse,

beijo abstrato, antes do beijo ritual,

na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado.

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O chão é cama (drummond)

O chão é cama para o amor urgente,

amor que não espera ir para a cama.

Sobre tapete ou duro piso, a gente

compõe de corpo e corpo a úmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"borboleta é flor que voa" (léo nascimento)
não se coloque tanto assim à minha disposição, benzinho. você sabe que não pega bem. quando me perguntou, com absoluta sinceridade, o que eu havia pensado do que você dissera (é claro que você vai se lembrar), fez questão de complementar, tão desnecessariamente, que nenhuma outra opinião importava. mal terminada a frase já te olhava com ar de pena, que nunca tarda a se perverter em desprezo. te torturaria, te olhando com hesitação em silêncio. você esperaria 32 segundos por uma resposta - te diria qualquer coisa pra que mil outras passassem na frente de seus olhos. e iria embora levando comigo um pedaço seu.