segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

esburacada

a linguagem é um furo. não o jornalístico, se bem que ela também se encontre no universo da comunicação (por excelência). quem sabe não seja a própria comunicação - é uma pergunta. talvez, mas uma cheia de buracos, é bom que se diga. daqueles imensos, sem fundo, dos quais queremos inutilmente desviar para não sermos capturados por uma lei forte como a magnética.
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nem todos têm um fundo assim, infinito, alguns vão apenas além da nossa capacidade de (tele)visão, mas se há algo realmente presente na linguagem é essa ausência. e ela se impõe de inúmeras formas. estamos caminhando, a face em meio aos assovios, quando se sente sob os pés a falta do chão: o vão. sem haver como falar, de não ter o que falar, como pensar, nada a entregar, nem um som.
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e também o silêncio de tudo o que se diz no lugar das coisas ditas elas mesmas - o silêncio que se ouve no pressentimento da plena presença da ausência. mais, há o buraco que nos persegue tal qual sombra, em um raio vinte vezes maior que nossos pés juntos, cujo centro está situado no espaço, ahã, naquele estreito buraco entre os tornozelos, caminhante comigo a me lembrar que se presentifico este texto é porque deixei de escrever todos os demais que agora eu poderia.
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na atual linguagem consensuada, esta mais clichê, de letrinhas (não clichê a ponto de deixar de romper com a tradição da palavra oralizada), o fundo branco do papel, o fundo azul escuro do blog, ou da cor que se queira não passa de fundo sobre o qual se depositam tintas, tíner, tentativas de unidades alfabéticas que querem preencher o vácuo de sentido e que só o fazem na medida em que são postas como são, repletas de entrâncias e ilhotas de não-escritos.
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se esta frase virasse terra batida daria para atravessá-la brincando de amarelinha.

Um comentário:

Guiga disse...

enfim um genuíno texto do nosso século, adorei belo e abstrato.