domingo, 30 de agosto de 2009

sobre certa crítica ao feminismo

diz-se que com o progresso, o desenvolvimento, as 'luzes' da razão ou o que quer que dispenda um pouco de energia elétrica tudo vai se esclarecendo na história. acontece que se há algum tempo estava evidente o que era (ser) um homem e o que era (ser) uma mulher [- com esse 'ser' entre parênteses mesmo-], hoje nada disso é muito claro.
sem dúvida, a obscuridade, pluralidade e/ou relatividade que marcam muitos dos discursos contemporâneos não são privilégio dos assuntos de gênero. ideologias em vários formatos teóricos e práticos atacaram as fronteiras que dividiam hermeticamente grupos de interesses, restringiam temas, impunham diferenças consagradas, escondiam discriminações grotescas, impediam prazeres. (parece que o processo gerou reações antagônicas, inclusive a de tratar de rapidamente fazer substituir os antigos dogmas por novos, assumidos como moldes das camisetas de silk vendidas em lojas 'alternativas'. se tudo passava a ser possível, não havia mais desculpas para a tristeza. entre outras coisas, a felicidade se tornara imperativa).
mas se hoje não há mais homens, afirma-se, a 'culpa' é das mulheres. especificamente, das feministas. tudo decorre da luta pela igualdade. quiseram-na tanto e agora a têm: não há mais diferenças entre os sexos e com elas foram-se as identidades individuais. ninguém mais sabe o que ou quem é. talvez fosse melhor comentar o fato em termos não-cristãos: falemos em responsabilidade. se as feministas são responsáveis pelos não-homens (e não-mulheres) acho que fizeram muito bem, considerando certas definições do que antes era ser homem e mulher.
não é, de fato, sintomático que houvesse uma luta pela igualdade de direitos e que, teoricamente obtida, o fato redundasse tragicamente na ausência de diferenças determinadas para os gêneros? quanto constrangimento pelo passado! não deixa de ser curioso o olhar compreensivo de certos fatos históricos, de um lado, brutal para com algumas desproporções que se apresentam volta e meia em qualquer movimento social, de outro.
não se encontra a certeza senão passando inexoravelmente pela incerteza, já apontava lacan em 45. pode-se acrescentar, modernamente, que tampouco se tem segurança sem experimentar o seu oposto.

Um comentário:

Guiga disse...

considero muitíssimo importante as discussões de gênero, visando ultrapassá-lo.