segunda-feira, 31 de agosto de 2009

provok-a-ação

teria havido uma evolução de meios coercitivos do capitalismo, que passaria da imposição de modelos predeterminados à instituição de modulações, da renovação dos padrões à manutenção de sua constância, do confinamento para a fiscalização ao ar livre, da supressão da liberdade para a concessão dela, do domínio do corpo para o domínio da vida. e o que sobra? sobra tudo.
as soluções mais palatáveis são intragáveis. pensa-se na ordem e no progresso da família patriarcal, da creche, da escola, da oficina, dos presídios, do estado-policial. o que liberta do controle é o controle. fora disso, o que sobra? sobra tudo.

não basta controlar os zois, fatos da vida. é preciso sobretudo se assegurar dos bios, das formas dela. cumpre prevenir a vida de hoje do futuro que se acerca a cada início de gesto. o presente se retarda e se alonga, parecendo subsistir só. se o tempo é agora, é agora. o que sobra? sobra tudo.
o privado é público e vice-versa. não se sabe bem quem manda e quem obedece a quem. findaram as duas instâncias, o dentro e o fora das coisas. não parece mais haver questionamento não-cooptável. o mundo da rebeldia é vendido a preços promocionais nos shoppings. o mercado toma para si práticas de guerrilha e de grupos libertários. participar virou uma exigência. é preciso bater cartão de cidadania. o que sobrou? sobrou tudo.

o fatalismo está pressuposto: da circunstância irrevogável, do acontecimento infreável, da necessidade inequívoca dos fatos. o que sobra dos estudos da sociedade - sociedade da disciplina, do espetáculo, de controle? sobra tudo. tudo o que está posto e requer seja dito - vividamente ou também por palavras. não há mais 10 instituições sociais autônomas (com linguagens fechadas para si), 3 tempos, 2 esferas de vida, 2 instâncias sociais, 2 planos de circulação de bens, ou mais: há o 1. não há mais fatalismo possível. vivemos em pleno campo de imanência.
não espere pelo devir. godot sempre esteve aqui. devenha.

2 comentários:

camila schmitt disse...

sombram folhas verdes, ondas azuis e gotas de sangue.

Guiga disse...

sobra viver e pensar o 'singular', algo completamente novo para quem como nós sempre procurou respostas totalizantes.