sábado, 28 de agosto de 2010

Aguardo você há 17 minutos, mon amour. Não sei por que, pressenti que isso fosse ocorrer. Nossa despedida apressada de ontem me deixou com uma impressão ruim. Ou talvez foi algo que fiz, será que o modo como disse que precisava ir, sem dar tempo pra você pensar em qualquer coisa? De repente, causei algum ciúme te dizendo que tinha que me desligar do chat porque a Marina acabara de acordar, já eram 2 da madrugada. Você pode ter pensado que a Marina podia acordar sozinha, sem alguém para ajudá-la, sem que alguém fosse cobri-la ou abraçá-la, por já estar bem grandinha. Mas ela ia embora, te disse que iria acompanhá-la com um certo ar de que isso seria sagrado, e era, e quem sabe naquele momento você tenha comparado a importância, para mim, da nossa conversa com a da despedida da Marina, sentido nosso contato inferior. Injustamente inferior, porque nós estávamos há milhas de distância, enquanto ela estava bem ali, do meu lado, estalando as madeiras do quarto ao se levantar demoradamente, por certo ainda tonta com nossa briga de ontem, com sono e com o vinho tinto que tomamos pra ver se assim conseguíamos falar com mais fluência a nossa língua materna. Eu precisava pelo menos acompanhá-la, minha querida, ainda que não me sentisse tendo que me redimir por nada, sobretudo porque não havia nenhuma outra razão que me levasse a isso. Era uma estratégia sem objetivo e sem pensamento, um carinho, como se diz. Injustamente, meu benzinho. Pedi para que nos reencontrássemos hoje. E não teria mais como reencontrar a Marina tão cedo. Você topou.
Você está atrasada mais de uma hora, quem sabe calculamos mal o fuso? Ou então, me pergunto desde nossa conversa de ontem se quando calculamos a diferença dos ponteiros de nossos relógios –havíamos nos encontrado apenas por acaso na internet, você deve se lembrar bem, eu fiquei eufórica quando me dei conta disso – você não estava em um computador ainda programado no horário de verão (ou de inverno, nunca sei que horas deveriam ser), essas lan-houses não ligam em atualizar os relógios das máquinas que suam e queimam todas as tardes ligadas nas tomadas quentes. Poxa, eu havia te falado que, me encontrando às 5 horas daqui, você deveria estar às 13h ou 14h daí, seria preciso calcular o fuso corretamente. Ah, mas você é tão teimosa! Por que você insiste em se deixar ser assim? É capaz que tenha pensado que só me encontraria às 14h de São Paulo, fosse que horário fosse em Paris. Devo te informar que isso seria às 19h daqui, que então eu deveria te esperar duas horas a mais, mas, enfim, não falta tanto para chegar lá. Já esperei uma hora e quarenta. Posso esperar mais vinte minutos. E, quem sabe, se você chegar um pouco atrasada quanto ao horário que você mesma estabeleceu, uns 15 ou 20 minutos a mais, bem, não haverá problema non plus, não vale a pena se estressar por conta de um atraso.

Nenhum comentário: