vou parecer medíocre, mas quando saí da gare du nord e tive o primeiro contato com paris não vi nada de excepcional. minha amiga me perguntou, requerendo confirmação, se a cidade não era maravilhosa. mais por educação respondi o que ela queria ouvir, mas sem também ir além com aquilo. passei muito bêbada meu período de décolage, a inadaptação de fuso. só fui mudar o único relógio que tenho, o do meu computador, ontem à noite, quando me afastei mais da condição de estar em um tempo entrecortado. retomei o ar, respirei fundo e tentei estar presente aqui no presente, naquele que agora flagro já velho demais. senti um deslocamento maciço de instantes quando ontem um colega brasileiro comentou que a cidade era cinematográfica. como, às vezes, ele usa frases de efeito que não consegue explicar bem, pedi algum desbobramento e ele foi genial. "este prédio aqui [apontando para ele], não parece que foi planejado? que ele foi construído só para estar nesta rua dessa forma? e esta igreja, então? olha a angulação dela na rua! não é incrível? uma mão veio e a ajeitou aí". os exemplos foram perfeitos porque arbitrários, todos aqueles prédios estavam bem dispostos. e isso não queria dizer "perfeitamente alinhados", já que isso talvez implicasse uma pobreza estética. havia riqueza no encontro das linhas arquitetônicas dos diversos batîments, com árvores e as calçadas lisas e largas, com pouco pedestres e ciclistas, que formava um complexo de cantos e bordas a se perder de vista. cidade de detalhes, cada rua espelha um céu e o céu é lindo.
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