segunda-feira, 9 de agosto de 2010

o duvidoso pelo certo

não acredito na esquerda nacionalista. mas não é somente por conta das (já suficientes) questões referentes ao nacionalismo em si mesmo, enquanto ideologia. penso que essa opção configure um equívoco nos dias atuais, considerando-a em termos os mais pragmáticos. enquanto se defende a ampliação ou a manutenção de direitos nacionais, por exemplo trabalhistas, perde-se de vista que o ataque - no fundo, inclusive interno - a eles vem de fora, ao menos em sua parte mais insuperável. e a causa desse movimento se mostra um tanto patente. em um mercado internacional, os produtos de países com menos direitos sociais tendem a apresentar vantagens competitivas quase indiscutíveis, no plano econômico, comparativamente aos de estados garantistas. uma camiseta no brasil não pode ter um preço semelhante a uma da china, porque aqui xs manufatureirxs, se legalizadxs, geram uma série de 'custos' de produção, frutos do pagamento de prerrogativas de trabalho, previdência social, segurança na fábrica, altos impostos (em tese justificados pois revertidos a políticas públicas também sociais-assistenciais)...
ora, se no jogo do mercado capitalista de hoje os países com direitos humanos menos assegurados são os mais competitivos, disso evidentemente resulta um tipo de pressão nos mais protetivos no sentido de que aumentem sua competitividade passando pela desregulamentação de direitos essenciais conquistados com muito custo (custos de outro tipo!). daí as idéias de "flexibilizar" os direitos trabalhistas brasileiros, ilustrativamente. as empresas não suportariam competir com as chinesas, tailandesas e mexicanas, que não pagariam tantos impostos e direitos em seus países, o que permitiria que seus produtos chegassem até o brasil a preços mais baixos que aqueles produzidos aqui.
a luta interna no brasil não pode evitar o movimento geral que tende a fazer com que os países com menos direitos humanos puxem, por meio do mercado capitalista, os países mais garantistas para o mesmo patamar de desproteção em que os primeiros se encontram. isso não quer dizer que se deva desistir da resistência doméstica. mas que cumpre à esquerda se esmeirar em uma luta global, por direitos internacionais. apenas alçando os direitos humanos a um nível de fato universal se evitará que o capitalismo continue funcionando, sem dificuldades, como um buraco negro que arrasta consigo, em poucos anos, em planilhas contábeis, conquistas de décadas e séculos. a esquerda nacionalista certamente não conseguirá resolver esses problemas. uma internacionalista, quem sabe?

2 comentários:

Guiga disse...

sindicatos internacionais!

helô disse...

acho que me esmerei no "esmeirar".