luísa silvana, diários, v.1, p. 134.
domingo, 20 de dezembro de 2009
luísa silvana, diários, v.1, p. 134.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Peter Sloterdijk. Derrida, um egípcio. Tradução de Evando Nascimento.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
solidariedade aos blogs censurados pela folha de sp/uol
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avançaram sobre a propriedade
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
drummond pornô
Em teu crespo jardim,anêmonas castanhas (drummond)
Em teu crespo jardim, anêmonas castanhas
detêm a mão ansiosa: Devagar
Cada pétala ou sépala seja lentamente
acariciada, céu; e a vista pouse,
beijo abstrato, antes do beijo ritual,
na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado.
***
O chão é cama (drummond)
O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
o governo, por Hume
david HUME, tratado da natureza humana, tradução de déborah danowski - sp: ed. unesp/imprensa oficial, p. 579-580.
piloto automático
terça-feira, 24 de novembro de 2009
rabiscada
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
diálogos não-platônicos
domingo, 22 de novembro de 2009
desutopia
escuta, zé mané
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
(Lobão e Bernardo Vilhena)
Eu não quero mais nenhuma chance, eu não quero mais revanche
terça-feira, 17 de novembro de 2009
(conferir a íntegra da carta em: http://passapalavra.info/?p=14934)
a folha de s.p., esse jornal que certamente não poderia ser dito controverso - porque isso seria assumir o grande êxito de que propiciaria alguma discussão mais significativa nisto que se chamou de "esfera pública" paulista (que sequer existe) -, desde as primeiras reportagens sobre cesare battisti não hesitou nenhuma vez em nomeá-lo, nas manchetes de capa, com letras tamanho 42, "terrorista".
isso aconteceu depois de o conare (conselho nacional de refugiados) lhe ter negado refúgio e de o ministério da justiça tê-lo garantido mesmo assim. isso aconteceu antes mesmo de o supremo tribunal federal (stf) começar a julgar a existência de eventual 'conflito' ou sobreposições de funções entre os órgãos do poder executivo, assim como a obediência aos princípios constitucionais de relações exteriores neste caso. enfim, o jornaleco condenou o italiano sumariamente, contando a versão dos fatos assumida pelo governo italiano, antes de as entidades competentes brasileiras o fazerem e sem garantir ao acusado o direito de se defender, o que deveria ser um princípio dos mais elementares deste estado e do jornalismo sério.
não é muito diferente do que a itália fez contra ele e os demais membros da luta armada contra o estado fascista nas décadas de 70 em diante. de fato, talvez a mensagem de battisti de que ser extraditado para aquele país significa ser condenado à pena de morte seja mais que uma frase de efeito. não só não pôs um fim ao fenômeno fascista das décadas passadas, como o país ainda indica uma retomada das suas bases.
em fevereiro e julho deste ano, editou cinco leis que dispunham sobre o confinamento de ciganos a certas áreas predeterminadas, a denúncia à polícia de imigrantes ilegais por médicos da rede pública de saúde que os atenderem, as "rondas de cidadãos" (grupos paramilitares formados por cidadãs/os que ganharam o direito de usar cassetetes e spray de pimenta em nada diferentes das chamadas freikorps da alemanha nazista e dos squadristi de mussolini) para garantirem a 'ordem', a criminalização da imigração ilegal, o apenamento, com até três anos de reclusão, dxs italianxs que oferecerem suas casas como abrigo, a obrigatoriedade de qualquer servidor/a públicx denunciar x imigrante ilegal que procura emprego, a proibição de xs filhxs dessxs estrangeirxs serem registradxs e reconhecidxs no país (permanecendo apátridas - o que nem mesmo Hitler foi capaz de fazer!), a proibição de o/a cidadã/o italianx contrair matrimônio com um/a estrangeirx irregular.
junto a tudo isso, berlusconi pretendeu criar uma alta cúpula blindada de quaisquer tipos de demandas judiciais, imune ao direito que ele criaria, mas ao qual não se submeteria. ele parece seguir à risca o modelito de todo tirano. para a sorte geral, a lei alfano, que legitimaria a encarnação da soberania na sua pessoa e na dos três mais altos funcionários de seu governo, foi julgada inconstitucional pelo tribunal constitucional italiano. só por enquanto, segundo seus opositores avaliam, já que ele parece ameaçar a independência do judiciário, elemento já bastante conhecido da máfia.
enquanto a itália inequivocamente se engaja no caminho radical do retrocesso político mais conservador, aqui no brasil degladia-se no julgamento do que seja um 'crime político', com uma certa habilidade para esquecer que nenhum das firulas e pérolas de toucinho defendidas pelo ministro relator, nosso amado pacifista cézar peluso (como a de que a tomada de armas já indica a perda do aspecto 'político' do crime*), lewandowski, ellen gracie e britto, será apta a afastar o fato de que, no limite e ao cabo, essas palavras são bem mais pesadas do que se quer fazer supor, porque elas estão servindo para fundamentar o assassinato anônimo de battisti, ou seu suicídio repentino, sem motivação clara, como vão querer nos fazer acreditar daqui a pouco.
nem precisaria dizer que esse quadro passa bem ao largo das disposições propriamente jurídicas do caso. além da decadência e da prescrição pelo decurso do tempo sem denúncia e julgamento dos quatro crimes comuns que acusam battisti de ter cometido, ambas causas de extinção da punibilidade, poder-se-ia lembrar que não há provas materiais do cometimento das alegadas infrações e que sua conexão a battisti foi realizada por ex-militantes torturados nas prisões italianas, que trocaram a realização dessas 'confissões' por benefícios penitenciários e penais - ou seja, por pessoas de imparcialidade altamente duvidosa, devido às circunstâncias em que se encontravam.
afora isso, a situação continua esquizofrênica: xs ministrxs do stf apreciam se o que battisti teria cometido era crime político ou comum, quando o próprio governo italiano exige a extradição afirmando que o crime é político. parece piada, mas o que está acontecendo no brasil é um meio de tentar justificar a extradição em um caso nitidamente proibido pelos princípios mais fundamentais do estado. daí que se a competência é ou não do executivo ou do judiciário se mostra o de menos, uma polêmica que, no fundo, vem esconder a questão: quem se prontifica a entregar esse corpo nu aos leões famintos?
* fiquei a imaginar que tipo de crime o sr. peluso consideraria político. baterem uma margarida na cara do segurança do berlusconi é muito bonito e pode ter algo de político, mas isso seria um elogio, não um ilícito.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
domingo, 8 de novembro de 2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
por aqui não passou
- é proibido proibir
- a imaginação toma o poder!
- a barricada fecha a rua, mas abre a visão
- com a palavra os muros
- sejamos realistas, queiramos o impossível
- trabalhador(a): você tem 25 anos, mas teu sindicato é do outro século
- o verão será quente
- viver sem tempo morto e gozar sem entrave
- compram sua felicidade. roube-a
- o tédio é contra-revolucionário
- mesmo se deus existisse, seria preciso suprimi-lo
- GLOBO: a polícia tem um encontro marcado com você todas as noites, às 20 horas
(ORTF: la police vous parle tous le soirs à 20 heures)
-sob o concreto, a praia
(sob o asfalto, a liberdade - sous les pavés, la plage)
domingo, 1 de novembro de 2009
a vida é doce (lobão)
na cara eu procurava alento no seu último vestígio,
no território
da sua presença
impregnando tudo tudo que eu
não posso nem quero deixar que me abandone
são novamente
quatro horas
ouço lixo no futuro no presente que tritura
as sirenes que se atrasam pra salvar atropelados
que morreram que fugiam que nasciam que perderam
que viveram tão depressa tão depressa tão depressa
a vida é doce depressa demais
e de repente o telefone toca
e é você do outro lado me ligando
devolvendo minha insônia
minhas bobagens
pra me lembrar que eu fui a coisa mais brega que pousou na tua sopa
me perdoa
daquela expressão pré-fabricada
de tédio
tão canastrona
que nunca funcionou nem funciona
"Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além" (Leminski).
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
do discursinho do trabalho por quem adora o ócio:
"...essa gente, por natureza, é ociosa e viciada, de pouco trabalho, melancólicos e covardes, vilões e mal inclinados, mentirosos e de pouca memória, e de nenhuma perseverança. Muitos deles, por passatempo, se mataram com peçonha para não trabalhar, e outros se enforcaram com suas próprias mãos" (Gonzalo Fernández Oviedo, Historia General)
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Der Kuss - 1989 [Einstürzende Neubauten]
Der Kuss - o beijo:
Alles - tudo
was ich warf - o que eu joguei
fing ich - comecei
fing ich auf - apanhei
fing ich auch - e, além disso, comecei
dies ist ein Kuss - isto é um beijo
dies ist die Muendung - isto é uma boca
dahinter der Lauf - atrás da corrente
(2x) was ich warf - o que eu joguei
fing ich - comecei
fing ich auf - apanhei
fing ich auch - e também comecei
dies ist ein Arm - isto é um braço
dies eine Schlinge - isto é um laço
ein Fangarm vielleicht - talvez um tentáculo
(2x) was ich warf - o que eu joguei
fing ich - comecei
fing ich auch - apanhei
fing ich auf - e também comecei
dies ist ein Leib - isto é um corpo
dies ist ein Loch - isto é um buraco
und Eingang zugleich - e, ao mesmo tempo, entrada
was ich warf - o que eu joguei
fiel (schlug Funken) -caiu (soltou faíscas)
und auf - e
was ich warf -o que eu joguei
fiel (schlug auf) - caiu (aberto)
und Funken - faíscas
dies war ein Kuss - este foi um beijo
ohne Fehl - sem defeito
und nackt - e nu
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
sambinha tosco i.
o dia amanheceu: de verdade
seu arrependimento vem tarde
ao menos me poupe a saliva
você inventou nossa história
brincando de amarelinha
meu peito, objeto de aposta,
foi jogado no jogo da ladainha
quando olhei pro fundo do espelho
só vi marcas de troça e ferida
vê se entende, eu não tenho conselhos
- o que restou de mim foi sua vida.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
filosofia de vida - sem auto-ajuda
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
CIRCA - Clandestine Insurgent Rebel Clown Army
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Costura radical (manifesto)
"Costura radical é o duplo processo de:
* costurar coisas ridículas (que, então, devem ser usadas); e
* costurar os itens acima mencionados em tantos lugares quanto possíveis.
O objetivo da costura Radical é desafiar as normas culturais e sociais exigidas por uma sociedade burguesa-capitalista-racista-homofóbica-comedora.de.sucrilhos.
Além de ser uma atividade bastante irreverente, a costura Radical tende a inspirar discussão (você vai adorar ver quantas pessoas vêm te perguntar o que você está costurando). Este é o primeiro (bem, segundo se você realmente gostar do que está costurando e quiser usar/vesti-lx) objetivo da costura Radical, já que ela possibilita discussões políticas com desconhecidxs aleatórixs.
Por que não começar falando sobre direitos lgbttt, democracia (ou sua falta na sociedade moderna), anarquia ou guerras falaciosas (do terror, Iraque,...)?"
domingo, 27 de setembro de 2009
amantes: proto-crítica
domingo, 6 de setembro de 2009
Ouvindo a conversa dos outros (trecho I de II)
Um dos muitos fatos que me chamaram atenção morando entre eles foi sua capacidade de falar e ouvir.
Uma vez percebi um casal “discutindo” à noite, em sua língua, por horas a fio, através das paredes de palha de sua casa. Um deles falava longamente, sem interrupção do outro, muito mesmo... Quando parava era a vez do outro, que também não media palavras. Sempre calmamente, em nenhum momento alguém dava um grito ou emitia um tom rude. Noutro dia, um jovem que morava na casa deles me disse que falavam daquele jeito “para não brigar”.
Noutra feita uma mulher chegou de carro à noite na aldeia, atrás de seu marido que estava prestes a se casar com outra no dia seguinte (entre os Xavante é possível o homem ter mais de uma esposa e a fidelidade sexual de ambos os sexos não é restrita como na “sociedade burguesa”). Muita gente se movimentava para cima e para baixo ou ia para perto de onde vinha o burburinho e o pai do noivo fez até um choro cerimonial. Mas a “briga” que aconteceu não passou de uma longa conversa... A irmã do noivo falando com a primeira mulher, e vice-versa, sempre em tom comedido, sem estridência, sobre o modo de vida deles.
Os Xavante consideram a palavra muito poderosa.
Um de seus mitos cosmogônicos conta a história de dois adolescentes e companheiros (que se chamam mutuamente de “meu outro”) que às vezes se afastavam do coletivo para pregar peças e “inventar” espécies vegetais e animais, transformando-se nelas. Os dois se tratavam com respeito, um esperando a sugestão do outro para o que fazer: “meu outro, o que vamos fazer agora?”, – “diga você, meu outro, o que vamos fazer?”, “vamos fazer a onça!”, e os dois se transformavam na onça, criando-a e assombrando a todos. Depois de muitas invenções/transformações dessas, o coletivo ficou cansado e assustado com o poder deles e os mataram. Mas isso não colocou fim à vida deles, eles continuam por aí, e aparecem em sonhos, pois os sonhos são reais.
Pensando um pouco como Mircea Eliade, o rito de maturidade dos adolescentes Xavante pode ser encarado como uma morte ritual que remete a este mito, na qual espera-se que passem a noite dentro d'água para amolecer os lóbulos, talvez “desmaiem” (que em Xavante quer dizer “morram”) ou simplesmente sofram calados a perfuração da orelha, a colocação dos brincos que fazem deles homens. Pierre Clastres diz que é assim que várias “sociedades” imprimem no corpo de seus membros a memória de seu pertencimento.
No caso Xavante, o silêncio tem uma importância gritante. Podemos contrapô-lo ao poder da palavra, sempre latente e à espreita, daquela dupla mítica que inventava animais e plantas. Pois esse ritual parece sinalizar, com brincos nas orelhas, que para que a palavra não se torne perigosa demais é necessário, primeiro, aprender a ouvir o que vem do coletivo. E ouvir é uma das coisas que os adolescentes Xavante mais fazem durante os anos de sua formação. Presenciei isso na “casa dos solteiros”, onde eles dormem e são constantemente visitados pelo grupo dos homens recém chegados à idade adulta (em Xavante se diz “pequenos adultos”, grupo no qual fui inserido) que os apadrinha e os ensina.
Ouvir é tão importante que quem não fala direito ou não canta direito é chamado de “surdo”. Numa das aldeias em que fico há um telefone público e, como eu disse para eles que tinha tentado ligar mas não conseguido, o cacique me explicou que, por causa de relâmpagos, o telefone tinha ficado 'surdo'..."
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
provok-a-ação
domingo, 30 de agosto de 2009
sobre certa crítica ao feminismo
sábado, 29 de agosto de 2009
"je t'aime moi non plus" em 5 atos
-oi?
te amo
-também não sei.
te amo
-só um pouquinho, né?
te amo
-eu também não.
te amo
-nem um pouco.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
no dia em que ele olhou para o lado
sem coragem de dizer o de sempre,
a outra entendeu por bem se maquiar,
o tio, não cortar o cabelo,
acordaram felizes e tristes sem saberem o nome do mês
tudo era lamentável, sem algo especificamente indigno
o mundo tinha duzentos mil nomes em centenas de línguas
que pareciam iguais e incomunicáveis,
expostos nas vitrines tridimensionais "das maiores capitais do planeta",
combinavam-se cores em estilos infinitos, um para cada gosto
e nada deixava de ser um movimento
social antissocial, cultural anticultural
a modernidade brilhante desse não-se-sabe-mais-o-que-fazer
terça-feira, 25 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
Guy Debord
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
miscelanealogia: mulheres II
Quando a tolerância religiosa se resume a aceitar o cristianismo...
No pedido feito dia 31 de julho, o MPF entendeu que a foto do crucifixo apresentada pelo autor desrespeitava o princípio da laicidade do Estado, da liberdade de crença, da isonomia, bem como ao princípio da impessoabilidade da administração pública e imparcialidade do Poder Judiciário. Porém, a juíza entendeu que não ocorreram ofensas à liberdade de escolha de religião, de adesão ou não a qualquer seita religiosa nem à liberdade de culto e de organização religiosa, pois são garantias previstas na Constituição.
Para a magistrada, o Estado laico não deve ser entendido como uma instituição antireligiosa ou anticlerical. "O Estado laico foi a primeira organização política que garantiu a liberdade religiosa. A liberdade de crença, de culto e a tolerância religiosa foram aceitas graças ao Estado laico e não como oposição a ele. Assim sendo, a laicidade não pode se expressar na eliminação dos símbolos religiosos, mas na tolerância aos mesmos", afirmou ela, na decisão.
Fonte: Agência Estado, 21/8/9
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Icono-religio-clastia! demorou...
No pedido feito à Justiça Federal, o MPF pede aplicação de multadiária simbólica no valor de R$ 1, 00 (Um real) para servir comoum contador do desrespeito que poderá ser demonstrado pela União, casonão cumpra a determinação judicial. O prazo para a retirada dossímbolos religiosos é de até 120 dias após a decisão.
Inúmeras pessoas se dirigem aos prédios da União diariamente para asmais variadas atividades, de caráter administrativa ou judiciária, etem a sua liberdade de crença ofendida diante da ostentação pública desímbolos religiosos não relacionados com a fé que professam.
Apesar da população brasileira ser de maioria cristã, o Brasil optoupor ser um Estado laico, em que não há vinculação entre o poderpúblico e determinada igreja ou religião, onde todos tem o direito deescolher uma crença religiosa ou optar por não ter nenhuma, asseguradopelo art. 5 da Constituição Federal.
Além disso, é obrigatório, na Administração Pública, o atendimento aosprincípios da impessoalidade, da moralidade e da imparcialidade, queestão ligados ao princípio da isonomia, determinando que todos sejamtratados de forma igualitária.
Sendo assim, o símbolo religioso no local de atendimento público não émero objeto de decoração, mas sim predisposição para uma determinadafé que o símbolo possa representar e, para o MPF, o Estado laico deveser a regra na Administração Pública.
Segundo o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão e autor da ação,Jefferson Aparecido Dias, cabe ao Estado proteger todos essasmanifestações religiosas sem tomar partido de nenhuma delas.“Quando oEstado ostenta um símbolo religioso de uma determinada religião em umarepartição pública, está discriminado todas as demais ou mesmo quemnão tem religião afrontando o que diz a Constituição” ressaltou.
sábado, 1 de agosto de 2009
Pesquisa demonstra que maioria de estudantes da UnB é favorável às cotas raciais
Confira abaixo alguns trechos do resumo. Para acessar a íntegra do resumo, clique aqui: http://www.servicos.sbpcnet.org.br/sbpc/59ra/senior/livroeletronico/resumos/R6712-1.html
***
As políticas públicas de ações afirmativas instituídas por algumas universidades ou mesmo os projetos de lei propostos pelo governo brasileiro têm gerado vários debates na sociedade. A dimensão crescente que esses assuntos têm tomado, principalmente nas universidades onde foram implantadas as cotas, pode ser considerado evidência de um fenômeno social que permanecia a margem das discussões há varias décadas. Não há nada mais adequado que a história do próprio país para explicar a correlação existente entre esses temas e a importância deles para criação de um país mais justo e solidário.
Ao longo da história mundial, as conquistas territoriais geralmente são acompanhadas de violência. Em relação a colonização portuguesa no Brasil, não foi diferente. Pessoas pertencentes a diferentes culturas foram submetidas a um ideal de identidade nacional, muito presente nos Estados europeus a partir de suas unificações. Durante essas unificações, muitos povos tiveram seus costumes suas línguas e suas tradições reprimidas em prol de uma identidade cultural homogênea. Nessa mesma perspectiva, durante a colonização do Novo Mundo, o processo de repressão cultural foi bastante intenso, com o agravante de existirem estudos antropológicos os quais consideravam a organização social dos povos habitantes das Américas de forma inferiorizada.
(...)
É exatamente nessa perspectiva que se constrói o racismo no Brasil. Como não houve nenhuma política inclusiva para ex-escravos, o Brasil entrou numa espécie de turbulência social e política que tem se acentuado. Essa crise é resultante de uma grande parcela da população, anteriormente força de trabalho escrava, ter se tornado livre e sem função socioeconômica repentinamente. Quando o governo brasileiro incentivou a vinda de migrantes europeus ao Brasil, por exemplo, tratava-se de uma ação em defesa da branquidade homogênea que colocava de lado os negros excluídos do mercado de trabalho que não contava mais com a mão de obra escrava. Essa imagem nacional de uma força de trabalho fundamentada em mão de obra branca e homogênea foi tão bem construída nos alicerces das teorias de raça européias que conseguiu dizimar até mesmo uma porcentagem significativa dos negros brasileiros. A idéia foi tão bem assimilada pelas elites que continua sendo repetida ainda hoje. Nas universidades, por exemplo, cenários do pensamento crítico e racional das sociedades, têm professores que acreditam no argumento segundo o qual existira a raça negra e essa seria inferior as demais raças.
Então, o racismo brasileiro foi conseqüência da inferiorização moral e social do negro pelo europeu durante a escravidão. Mas, a característica peculiar do Brasil foi a negação dessa posição superior historicamente construída. O caso é particular por causa dessa posição ambígua e duvidosa da elite branca. O fato da elite não se assumir como branca e privilegiada no período que sucedeu a abolição transformou o racismo brasileiro em um tipo esquizofrênico. Isto é, ao mesmo tempo em que é proferido um discurso de democracia racial e da inexistência de raças diferentes no Brasil devido a mestiçagem, não se concebe a existência de racismo. Então o resultado é um duplo vínculo que os descendentes de escravos têm na sociedade. O primeiro é a identificação com um grupo social inferiorizado e discriminado. O segundo vínculo é a falsa e passageira identificação com o grupo privilegiado social, político, econômico e até esteticamente. Sendo assim, os descendentes de escravos no Brasil têm permanecido fora das políticas inclusivas, pois não são reconhecidos como um grupo social com demandas 'sui generis'.
Voltando à análise do método comparativo em Antropologia Cultural, Franz Boas criticou o método evolucionista e difusionista, afirmando que o conceito de cultura explicava as diversidades sociais. Para Boas, o antropólogo deve sempre relativizar culturalmente diante dos grupos estudados. Dentre vários autores brasileiros influenciados pelas teorias de Boas está Gilberto Freyre que foi seu aluno. Além de Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Jorge Amado foram protagonistas na teorização da ideologia da mestiçagem e do mito da democracia racial. Gilberto Freyre foi o que conseguiu aliar da melhor forma as teorias de Boas com sua forma de pensar. Freyre se apoderou dos estudos de Boas sobre a inexistência de inferioridade entre raças para defender a idéia de inexistência de racismo no Brasil. Em sua obra “Casa Grande e Senzala” chega a firmar que a colonização dos portugueses foi branda. Buarque de Holanda publica obras também nesse sentido. E um tempo mais tarde, Amado caricaturava a mulata sedutora e o negro bonachão em suas obras popularmente difundidas.
Dessa forma, essas pessoas desautorizaram a identidade do negro, jogando-o num racismo esquizofrênico. Além disso, essa desautorização de identidade envolve argumentos sexistas e racistas. Essa situação construída se coloca contra o desejo e a decisão de uma afirmação de coletividade negra.
(...)
Com a intenção promover a eqüidade no acesso a direitos e modificar o cenário de desigualdade que às políticas afirmativas entram no contexto social. Uma ação afirmativa leva em conta o princípio da eqüidade e discrimina positivamente, visando proporcionar o maior grau de igualdade. Em particular, as cotas para negros, como um dos mecanismos de ação afirmativa visa criar oportunidades para que os negros superem as desigualdades sociais.
Além disso, as ações afirmativas são políticas emergenciais e temporais para quebrar o processo desigual que afeta a distribuição de renda e o grau de instrução da população brasileira. Isso não desconsidera a importância de outras políticas públicas como a de reforma de base na educação ou mesmo mudanças estruturais referentes ao processo de distribuição de riquezas. Porém essas ações demorariam gerações para apresentarem resultados. No campo das ações afirmativas, o Brasil em 1999 conheceu a primeira proposta de cotas para negros no ensino superior brasileiro. Essa proposta foi apresentada ao Conselho de Ensino e Pesquisa (Cepe) da Universidade de Brasília (UnB) pelos professores José Jorge Carvalho e Rita Laura Segato (Carvalho, 2003). Para tanto, somente no ano de 2004 que a UnB adotou o sistema de cotas no vestibular visando aumentar o acesso de alunos negros no ensino superior brasileiro. Esta pesquisa teve como objetivo verificar como estudantes de graduação da UnB se posicionam em relação à seleção pelo sistema de cotas.
Esse é um estudo descritivo sobre as cotas na Universidade de Brasília (UnB). Foram entrevistados 2,5% do total de estudantes da universidade, sendo 50% deles do sexo feminino e 50% do sexo masculino. Em relação à forma de ingresso na UnB, cerca de 63% dos alunos entrevistados ingressaram pelos sistema universal; 7% pelo sistema de cotas; 23% pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS); 4% por acordos entre países, 2% por transferência. Desses, 30% ingressaram antes da implementação do sistema de cotas no ano de 2004, e 70% depois da implementação do mesmo. A respeito da área dos cursos dos alunos entrevistados, 34% fazem cursos na área de exatas; 9% na área da saúde; e 57% na área de humanas. Entre os entrevistados, 68% afirmaram conhecer alguém que entrou na UnB pelo sistema de cotas; 24% não conhecem ninguém que entrou pelo sistema de cotas e 7% não souberam responder.
Em relação à cor da pele, 42% dos alunos entrevistados se declararam brancos; 40% pardos; 1% indígena; 2% amarelos; 14% negros. Entre as pessoas que se declaram brancos, cerca de 76% são a favor das cotas, assim como entre as pessoas que se declaram pardas. Entre as pessoas que se declararam negras ou pardas cerca de 73% são a favor das cotas. Por fim, em relação a legitimidade das ações afirmativas – cotas para negros – cerca de 84% das pessoas que se declararam brancos são a favor de ações afirmativas, assim como 82% das pessoas que se declaram negras ou pardas.
CONCLUSÕES:
Esse survey inicial sobre as cotas na Universidade de Brasília (UnB) fornece alguns indícios de como os estudantes de graduação da UnB se posicionam diante do sistema de cotas para negros. 46% dos estudantes acreditam que as cotas facilitarão a entrada dos negros no mercado de trabalho e 15% não souberam avaliar. Aproximadamente 75% dos estudantes são favoráveis às ações afirmativas nas universidades públicas. Uma das ressalvas a serem feitas aos resultados é que a coleta de dados coincidiu com um período de intensas discussões no âmbito da universidade sobre o tema das cotas e do racismo. O estudo aponta para a importância de ações de sensibilização da comunidade acadêmica sobre as ações afirmativas, como as cotas para negros, uma vez que essas representam um mecanismo de justiça e de reparação das desigualdades sociais.
Nota de repúdio à ação do DEMO contra o sistema de cotas da UnB
A ação movida pelo DEM questiona a UnB por “institucionalizar oracismo” e por dar as bases de um “Estado racializado”. Toda aargumentação desenvolvida pela advogada leva a compreensão de que oproblema do racismo não existe no país - seja em função damiscigenação no país, seja pelo argumento biológico de que não existemraças - e que, as políticas de ação afirmativas são problemáticasquando têm o recorte racial. Mais ainda, ela afirma que esse tipo depolítica cria o racismo. Em toda a ADPF, a advogada tenta mudar o focoda argumentação, colocando que em termos biológicos não existem raçase que, portanto, não pode haver racismo no país. Ademais, ela descreveum país muito diferente do Brasil, em que há uma sociedade plural eplena. Ela se contradiz ao colocar nas considerações iniciais sobre omérito da questão que ela não quer discutir a existência de racismo,preconceito ou discriminação no Brasil, e afirma pouco depois que noBrasil “ninguém é excluído pelo simples fato de ser negro” (p. 27), ouseja, categoricamente a advogada afirma que não existe racismo nopaís.
É muito fácil se refugiar em argumentos pautados na genética humanapara afirmar que somos todos iguais, que não existem raças, quando naverdade o racismo brasileiro é fenotípico e parte marcante da nossasociedade. Isso quer dizer que, mesmo velado, o racismo brasileiro seexpressa nos estereótipos sociais, nas brincadeiras que muitos fazem enas ações de poder e segregação.
Diferentemente do que afirma a advogada, o quadro do Brasil é o de umagrande desigualdade racial. É notável a baixa representatividade dosnegros em espaços de poder no país, assim como nas universidades. Sepoucos são os que têm acesso à educação superior, menos ainda são osnegros que chegam à universidade, que mal chegam a ser 2% dessacomunidade. Em 2003 a UnB tomou uma decisão muito importante nessesentido. O CEPE (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) aprovou osistema de cotas, que reserva 20% de suas vagas a estudantes que sedeclarem negros e afro-descendentes. Essa política vem, acima de tudo,para mudar a realidade das universidades, quebrar o monocromatismobranco e escurecê-las.
Foi com essa política que a UnB começou a mudar. Com o sistema decotas, mais negros começaram a entrar e a influenciar os rumos dauniversidade, contribuindo para uma formação social mais plural eplena da universidade. Foi com o sistema de cotas que se criou umareal possibilidade de empoderamento de uma grande camada populacionalque historicamente é discriminada. A universidade ainda é um dosespaços predominados por brancos. As cotas vêm para romper com essearranjo, democratizando a universidade.
A nossa experiência na UnB é a do caminho contrario ao do “racismoinstitucionalizado”. Após a implementação do sistema de cotas a lutacontra o racismo se intensificou em todos os espaços da universidade,sendo que os vários movimentos sociais que se articularam desde entãosempre contribuíram em muito para uma maior proximidade dauniversidade com a sociedade e para a minimização da segregaçãosocial. A política de cotas é um marco na UnB. Ela sinaliza ainstitucionalização do processo da luta pela igualdade racial no nossopaís.
Em vários momentos os críticos ao sistema de cotas questionam aigualdade, defendida na constituição federal, mas temos que questionarcomo é possível falar de igualdade quando brancos e negros partem depontos tão distintos em nossa sociedade? Que igualdade é essa em quehá um claro predomínio branco em espaços de poder? Por fim, queigualdade é essa em que, pela cor da pele alguém é julgado?
Para que possamos concretizar o preceito constituinte de igualdade écentral avançar em políticas públicas. As ações afirmativas sãoinstrumentos com o claro objetivo de mudar uma realidade e afirmar apresença de um grupo socialmente minoritário. Não se trata de culparos brancos pela escravidão, como a advogada leva a crer, mas sim o dereforçar o negro como parte integrante e ativa de nossa sociedade.
É por entender o papel democratizante que as cotas possuem que o DCEda UnB vem em sua defesa e manifesta seu repúdio ao Democratas. Aformulação e a implementação de políticas de ação afirmativa sãocentrais para a consolidação democrática do país e, exatamente porisso que sempre serão alvo de ações de grupos - e partidos -conservadores que não querem o empoderamento popular. É papel dauniversidade formular, constantemente, políticas que visem soluçõespara os problemas de nossa sociedade. Esse papel tem que ser garantidopor toda a sociedade e a única forma de garantir que isso não seencerre é com luta! Por isso o DCE conclama todos os movimentossociais a se manifestarem e a se engajarem na luta em defesa de umasociedade mais justa, plural e democrática! Somente com uma amplaarticulação que será possível a vitória!
Brasília, 24 de Julho de 2009